Tempero da amizade

Existem aquelas pessoas que são tão leves que esquecemos o nosso próprio peso, emagrecemos tristezas antigas, neutralizamos aquela ácida ansiedade de não sermos suficientes, umedecemos os vazios e adoçamos as formalidades com a liberdade da intimidade.
Essas pessoas são as que fazem do limão uma limonada e somam com fartura o encontro com a compreensão que só as grandes e benevolentes almas podem ter.
Porém, há aquelas que uma palavra fora do lugar é suficiente para azedar toda a mistura da presença ou acham que fica sempre faltando uma pitada a mais da palavra não dita ou da pergunta não feita. Um olhar sério é cozinhado em frios complexos do não gostam de mim o bastante, em alguns casos, a piada mal passada se transforma na palavra contaminada, que estraga todo o evento.
Além dos fracassados cozinheiros de uma boa amizade, há os anfitriões amargurados, seguindo com medo de fornecer os temperos adequados ao início do preparo dos afagos.
Esses são capazes de destruir pratos e encontros alheios, impedindo o florescimento de futuros banquetes. Por sutis chateações, destroem colheitas de uma vida inteira, se interpõe entre o cozinheiro e seus apreciadores, ao falar que tudo estava sem sal, que ninguém presta, que todos estão contra ele, que quer distância de tudo, pois assim é mais seguro, e nisso, salgam todos os nutrientes de um bem querer impedindo o sobressair do tempero principal de qualquer comida e qualquer amizade- o amor.